domingo, 28 de novembro de 2010

OS DEBATES POLÍTICOS

Celso Arnaldo: em quantos pedaços Jânio faria Dilma num confronto direto na TV?

Celso Arnaldo enviou-me um recado que, como sempre, virou post. Desta vez na seção Baú de Presidentes, por trazer de volta Jânio Quadros. O que o grande artista da política perguntaria a Dilma Rousseff se tivesse o prazer de duelar na TV com a Doutora em Nada? Confira:

No esforço sobre-humano de acompanhar o debate entre a ignorância de Dilma e a inapetência de Serra, por mais de uma vez voltei a delirar naquela fabulosa fantasia que já experimentamos aqui neste espaço: em quantos pedaços, imprestáveis para consumo nas urnas, Jânio faria Dilma num confronto direto, tête-à-tête?

Certamente, nós dois – que o entrevistamos inúmeras vezes – teremos para sempre na memória a prosódia singular e seu extraordinário domínio da língua, bífida e venenosa, quando não destrutiva, contra seus inimigos figadais (até Jânio me explicar a raiz semântica da palavra, eu dizia, como muitos, fidagais).

Enfrentando Dilma num embate que necessariamente pressupõe um duelo de linguagens, o ippon de Jânio seria fulminante – já definido o vencedor nos primeiros segundos, a luta se estenderia pelo tempo regulamentar do debate apenas para deleite do público, e desespero do comissariado petista. Seria uma covardia.

Fiquei maquinando, para me distrair do entediante debate real, o teor de perguntas que Jânio faria a Dilma após as primeiras intervenções da oponente, em seu português de analfabeta funcional, estarrecedor para quem exibe um diploma superior no currículo. Uma delas poderia ser esta:

– Candidata Dilma Rousseff. Minha pergunta magna, neste bloco, será precedida de outras, adjuvantes, que a preparam e justificam. Tem a senhôra curso primário completo? Indago isto porque suas respostas até aqui não apontam para essa remota possibilidade. Se o tiver, gostaria que a candidata declinasse o nome de sua professora, que a esta altura deve ser um senhorinha em justo gozo de seu ócio com dignidade, usufruindo do parco pecúnio que amealhou em vida, ou, mais provavelmente, sobrevivendo à míngua dos proventos previdenciários que seu governo reajustou com impiedosa sovinice. Na pior das hipóteses, ou na melhor, já não o sei, repousa ela em floridos Campos Elíseos. Bem, mas, viva fosse, eu me atreveria a perguntar-lhe: lembra-se de ter dado aulas a uma Dilma Rousseff? Recorda-se de sua presença física em classe, materializando o nome constante na lista de chamada corrida pelo bedel? Em caso positivo, diria a senhôra ter sido ela então sua pior aluna?

Mas, candidata Dilma, na impossibilidade de desfazer desse modo o mistério que cerca sua escolaridade, e que explicaria por linhas tortas sua clamorosa insuficiência intelectual, peço-lhe vênia para ir ao cerne do enigma que nos assombra nesta noite: como ousa a senhôra candidatar-se à Presidência da República?

Precisaríamos de Jânio, de novo, só por uma noite.


texto original em:
http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/bau-de-presidentes/celso-arnaldo-em-quantos-pedacos-janio-faria-dilma-num-confronto-direto-na-tv/